O desfile de burocratas e a tragédia do Paraná - Por Roberto Requião





Por Roberto Requião na Revista Forum -------

Caravana Federativa em Foz do Iguaçu encena diálogo enquanto o Paraná sofre com privatizações e pedágios extorsivos

Senhores ministros, vice-presidente, deputados e demais burocratas federais que hoje desembarcam em Foz do Iguaçu para sua pomposa Caravana Federativa: sejam bem-vindos ao Paraná.

Mas, minha gente, tirem as luvas brancas e olhem para o chão que pisam. Aqui não há tapete vermelho — há o chão duro de um povo cansado de ser enganado.

O Paraná não precisa de caravana.

Precisa de coerência, decência e coragem política.

Qual é o sentido de trazer um séquito de ministros para “aproximar o Governo Federal dos municípios” quando esse mesmo governo vira as costas para a defesa do patrimônio público do nosso povo?

De que adianta o discurso de parceria federativa, se o que o paranaense sente é o bolso vazio, a luz mais cara e o cheiro da entrega no ar?

Os senhores chegam com pastas cheias de programas e promessas, mas o que o povo vê é a Copel privatizada, a Sanepar ameaçada, a Celepar na mira da cobiça e o Porto de Paranaguá transformado em balcão de negócios.

É a sanha privatista de Ratinho Junior, desavergonhada, abençoada pelo silêncio cúmplice de Brasília.

O PT do Paraná tentou resistir. Tentou gritar “não” à venda da Copel, tentou defender o patrimônio do povo. Mas foi engolido por uma Brasília que troca convicção por conveniência, que confunde política com planilha e transforma causa em cálculo.

O retrato mais triste dessa omissão foi o dia em que o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, se negou a receber a comitiva do movimento “A Copel é Nossa”.

O povo bateu à porta do banco público — e Brasília fechou as cortinas.

Nem o grito da sociedade quiseram ouvir.

Onde estavam todos vocês, senhores da Caravana Federativa, quando a Copel foi vendida?

Onde estava o vice-presidente, o ministro de Minas e Energia, o BNDES, o Palácio do Planalto?

Estavam em silêncio.

E que silêncio, minha gente: silêncio que fede a covardia, conivência e conveniência.

Como se não bastasse, o pedágio mais caro do mundo foi comemorado em vídeo — com direito a sorrisos, palmas e promessas — pelo governador Ratinho Junior, o ministro Renan Filho e o próprio presidente Lula.

Enquanto o povo paga pedágio para andar em estrada já paga, as autoridades brindam o “novo modelo” com contratos milionários e discursos de ocasião.

Uma bênção política ao assalto institucionalizado.

O Paraná sofre.

Sofre com o pedágio extorsivo, com a energia mais cara, com o desmonte do público — e com a cumplicidade dos que agora desfilam em Foz do Iguaçu, falando em “união e diálogo federativo”.

Mas que união é essa?

União com quem vende o que é de todos?

Que diálogo é esse, se o povo fala e ninguém escuta?

Essa Caravana Federativa é um desfile cínico, uma encenação de poder, um teatro de ministros e vice-presidente tentando posar de populares enquanto entregam o Paraná em Brasília — e na Faria Lima.

Sim, minha gente, essa caravana está no endereço errado.

Ela deveria estacionar nos escritórios de lobistas e especuladores da Faria Lima, onde se decidem as privatizações, os pedágios, as concessões e o preço da vida do povo brasileiro.

Lá é o verdadeiro gabinete paralelo do poder.

Aqui, sobra o teatro.

Mas o povo do Paraná não quer espetáculo.

Quer respeito, soberania e dignidade.

Quer o que é seu, de volta:

Queremos a Copel de volta.

Queremos a Sanepar pública, nas mãos do povo.

Queremos a Celepar livre da sanha privatista.

Queremos o Porto de Paranaguá do Estado, e não dos especuladores.

Queremos o fim do pedágio e estrada pública, do povo e para o povo.

Enquanto o Governo Federal continuar tratando o Paraná como palco de marketing eleitoral, fingindo não ver o desmonte das nossas estatais, essa Caravana Federativa continuará sendo o que é:

uma farsa itinerante, uma coreografia triste daquilo que um dia se chamou política nacional.

O povo do Paraná não é bobo.

Sabe quem defende o público e quem vende o público.

Sabe quem tem lado — e quem tem preço.

O Paraná não precisa de caravanas.

Precisa de caráter, coragem e coerência.

“Não sou — nem serei — avaro.

Se caráter custa caro, pago o preço.”

— Sidónio Muralha

*Roberto Requião é político, advogado, jornalista e urbanista. Foi governador do Paraná por três mandatos, senador da República por duas legislaturas, secretário de Estado, deputado estadual e prefeito de Curitiba (1986–1989). Presidiu a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) e foi copresidente do componente latino-americano da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (Eurolat). É filiado ao PDT (Partido Democrático Trabalhista).



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Roberto Requião.Créditos: Eduardo Matysiak
Foto crédito Eduardo Matysiak