O PORTO DE PARANAGUÁ, O CONTRABANDO DE DROGAS E METANOL, E O PCC

por Hugo Souza ----------- O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anda por aí jurando de pé junto que não será candidato ao Palácio do Planalto em 2026, mas sim à reeleição para o Palácio dos Bandeirantes e isto aqui faz parte deste show: plantou-se na imprensa o zum-zum-zum de que Tarcísio apoia o governador do Paraná, Ratinho Jr., para a presidência da República. Sendo Tarcísio, sendo Ratinho Jr. quem vai servir o coquetel bolsonarista na eleição presidencial do ano que vem, o candidato deverá enfrentar questionamentos de campanha sobre o fato de o Porto de Paranaguá, no Paraná, ter pintado de repente como hub logístico do Primeiro Comando da Capital; como corredor de importação de metanol e exportação de cocaína pelo PCC, segundo a Carbono Oculto e a Mafiusi, operações recentes da Polícia Federal. Foi pelo Porto de Paranaguá que o PCC importou milhões de litros de metanol com notas falsas de produto para uso na indústria, mas na verdade para misturá-lo à gasolina vendida nos mil postos de combustíveis controlados pelos mafiosos, em tramoia graúda com direito a lavagem de dinheiro da máfia numa pá de enfatuados endereços da avenida Brigadeiro Faria Lima. Foi o que mostrou a Operação Carbono Oculto. A investigação da PF sobre bebidas alcoólicas batizadas com metanol irá dizer se o que estava no uísque, vodca e gim dos intoxicados na Grande São Paulo e no agreste pernambucano, com mortos, veio desse esquema do PCC no setor de combustíveis, ou seja, se o metanol que está cegando e matando gente em São Paulo e em outros estados do Brasil passou pelo Porto de Paranaguá. Já a Operação Mafiusi revelou uma joint venture, por assim dizer, entre o PCC e outra máfia, a italiana ’Ndrangheta, para envio de cocaína para a Europa pela mesma porta, o Porto de Paranaguá, em mancomunação para tráfico internacional de drogas cuja lavagem dos lucros passaria, conforme a investigação da PF, por uma pecuarista que está entre os maiores doadores da campanha de Tarcísio de Freitas para o governo de São Paulo em 2022. O Porto de Paranaguá foi o primeiro porto público do Brasil a receber autonomia administrativa, com os processos de arrendamento de terminais passando da Secretaria Nacional de Portos para a empresa pública estadual Portos do Paraná no governo de Jair Bolsonaro. O convênio de delegação de competência foi assinado em agosto de 2019 pelo então ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e pelo governador paranaense, Carlos Massa Ratinho Jr. Em fevereiro 2023, a Portos do Paraná, batendo martelo na B3, em São Paulo, arrendou o terminal PAR50 do Porto de Paranaguá para um grupo econômico paranaense, a FTS Participações, em lance único de R$ 1 milhão. Apenas um ano e meio depois, em julho de 2024, a FTS passou a concessão do PAR50 para outra empresa. A outra empresa, a que comprou a concessão, é a StrongHold, braço do Grupo BSO (Brazil Special Opportunities). O Grupo BSO foi um dos alvos da Carbono Oculto na Faria Lima no fim de agosto por indícios de conluio com o PCC. Assim como Tarcísio de Freitas se irritou nesta semana ao ser perguntado sobre a possível conexão do PCC com o caso das bebidas com metanol, semanas atrás Ratinho Jr. não gostou de ser questionado sobre o processo que culminou com um terminal portuário de 85 mil metros quadrados de área e 18 tanques de armazenagem indo parar nas mãos de uma empresa ligada pela PF ao PCC, no âmbito da Carbono Oculto, em contrato de concessão de 25 anos prorrogável por mais sete décadas. Em nota enviada à BBC, o Palácio Iguaçu disse que nada teve a ver com a revenda da concessão do terminal PAR50 para a BSO/StrongHold e que “O Governo do Paraná e o governador repudiam qualquer tentativa de associar a administração estadual a essas investigações”. No ano passado, porém, Ratinho Jr. posava para fotos sorridente e com um presente na mão, dentro do Palácio Iguaçu, com um dos sócios do Grupo BSO, Cleiton Santos Santana, que, ao lado do governador, exibia um cheque gigante e simbólico de RS 572 milhões para o beneficiário Portos do Paraná/Governo do Estado do Paraná. O valor representava o investimento prometido pela StrongHold para a modernização do terminal PAR50. Documentos da Carbono Oculto apontam que Cleiton Santana e outro sócio do Grupo BSO, Guilherme Ali de Paula, têm vínculos com Mohamad Houssein Mourad, o “Primo”, um dos chefes do esquema PCC/combustíveis/Faria Lima. “Primo” está foragido. A depender dos desdobramentos das operações Carbono Oculto e Mafiusi e da investigação da PF sobre drinks com metanol — e do quanto a imprensa dita “de referência” irá se debruçar sobre estes casos, se não for pedir demais —, os presidenciáveis Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr. ainda vão passar muita raiva, zanga, irritação. Por ora, Tarcísio e Ratinho Jr. podem dizer sobre o Porto de Paranaguá o mesmo que disse o deputado Ricardo Barros, paranaense como Ratinho Jr., bolsonarista como Tarcísio e Ratinho Jr., sobre ter feito lobby no Banco Central para uma empresa acusada de descontos indevidos em contracheques de aposentados. Barros, o incompreendido, só queria garantir a “livre concorrência”. Parece que há duas mãos invisíveis na praça, se não a mesma: a da livre iniciativa padrão bolsonarismo e a mão que mistura o metanol. Neste sábado, 4, a imprensa dita “de referência” dá conta de que “Ratinho Jr. encanta a Faria Lima e pode ser a nova aposta do empresariado para 2026”. Neste mundo perdido num jogo de dados, de meninos transformados em moedas, o bafo de Lúcifer toldando o universo, o bufão sentado no trono do rei, neste mundo ao avesso e ao avesso de Hamelin, é o rato que encanta o flautista. ------------------------------------------ Publicado no Come Ananás. Link nos comentários. 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