Petróleo e Intervenção: A Ofensiva do Imperialismo Norte-Americano na América Latina

Pátria Latina --------- Por: Wagner França -‐------------‐- A América Latina vive um momento de intensas disputas geopolíticas, marcado pelo avanço da pressão política e militar dos Estados Unidos sobre países da região. No centro desse processo está a Venezuela, que não por acaso concentra as maiores reservas de petróleo comprovadas do mundo, estimadas em cerca de 303 bilhões de barris. A ofensiva norte-americana não é um episódio isolado, mas parte da crise estrutural do capitalismo em sua fase de declínio, em que o controle de recursos estratégicos se torna vital para a manutenção da hegemonia global. Por trás do discurso de “combate ao narcotráfico” e “defesa da democracia”, o que se observa é a construção de uma narrativa que justifica a intervenção externa. A realidade é que os EUA buscam cercar econômica e militarmente a Venezuela, sufocando sua economia e preparando terreno para controlar diretamente suas riquezas. Documentos oficiais e a atuação de think tanks revelam que o petróleo é o eixo central dessa disputa, e não valores democráticos ou preocupações humanitárias. A situação da Venezuela é marcada por um paradoxo evidente. Apesar de possuir a maior reserva de petróleo do planeta, sua produção atual gira em torno de 921 mil barris por dia em 2024, bem abaixo da capacidade real do país. Esse cenário decorre das sanções impostas pelos EUA, que limitam o acesso da Venezuela a mercados e capitais, somados a problemas internos de infraestrutura e a uma dependência histórica do rentismo petrolífero. A nomeação de figuras abertamente intervencionistas no governo norte-americano, como Marco Rubio, e a movimentação de tropas no Caribe em agosto de 2025, reforçam o caráter agressivo dessa política. Nesse contexto, a disputa pelo território do Esequibo, em litígio com a Guiana, ganhou protagonismo. Desde 2015, quando a ExxonMobil descobriu vastas reservas de petróleo na área, a Guiana transformou-se em um dos países de maior crescimento econômico do mundo, produzindo cerca de 671 mil barris por dia em julho de 2025. A guinada econômica atraiu ainda mais a atenção de Washington, que passou a apoiar firmemente o governo guianense em sua disputa territorial com Caracas. A Guiana, por sua vez, aprofundou laços militares com os EUA e o Reino Unido, realizando exercícios conjuntos e assumindo o papel de “aliado estratégico” no Caribe. Longe de ser apenas uma questão diplomática, essa aliança representa a subordinação da burguesia local aos interesses do grande capital internacional, especialmente das empresas de petróleo. O Esequibo, portanto, tornou-se não apenas um ponto de tensão territorial, mas um campo direto de disputa entre um projeto soberano e a expansão imperialista. Essa ofensiva contra a Venezuela deve ser entendida como parte de uma estratégia mais ampla de reafirmação da hegemonia norte-americana sobre a América Latina, herdeira da Doutrina Monroe. O objetivo central é assegurar o controle de recursos naturais estratégicos, conter a influência de potências rivais como a China e evitar qualquer tentativa de integração regional independente de Washington. O petróleo venezuelano, o lítio boliviano e outros minerais da região são peças-chave nessa engrenagem. A presença chinesa é vista com preocupação pelos EUA, já que Pequim tem investido em infraestrutura e adquirido petróleo venezuelano com descontos, ampliando sua presença na região. Ao mesmo tempo, a possibilidade de uma integração latino-americana soberana, que supere a dependência externa, representa uma ameaça à lógica de dominação histórica do imperialismo. É nesse ponto que se revela o verdadeiro temor de Washington: uma América Latina que busque autonomia política e energética. No entanto, o desafio da soberania energética na região vai além da resistência às pressões externas. Os governos latino-americanos continuam presos ao modelo extrativista, baseando suas economias na exportação de matérias-primas sem desenvolver cadeias produtivas próprias. Isso mantém os países vulneráveis às oscilações do mercado internacional e reféns da chantagem do capital estrangeiro. A superação desse quadro exige um projeto que rompa com essa lógica e coloque a riqueza regional a serviço do desenvolvimento popular. A a solução não pode vir da burguesia, seja ela subordinada ao imperialismo ou nacionalista em discurso. Na Venezuela, mesmo a recuperação parcial nos últimos anos beneficiou sobretudo as elites, sem resolver os problemas sociais enfrentados pela maioria da população. A luta por soberania, portanto, só pode ser concebida em paralelo à luta pelo socialismo, capaz de colocar os recursos naturais sob controle democrático e popular. Frente à escalada belicista, torna-se urgente denunciar o caráter imperialista da intervenção, fortalecer a solidariedade internacional entre trabalhadores de diferentes países e construir um projeto de integração popular latino-americana. Isso significa ir além da resistência imediata e caminhar para uma ruptura com o extrativismo e a dependência externa, organizando a riqueza regional de forma planificada e coletiva. As recentes movimentações militares e diplomáticas dos Estados Unidos contra a Venezuela demonstram que o imperialismo não hesita em acionar todos os meios à sua disposição para garantir o acesso a recursos estratégicos. Mas a experiência venezuelana também mostra que apenas deter tais recursos não é suficiente: é necessário romper com a lógica de dominação capitalista para que eles se convertam em soberania real. O futuro da América Latina dependerá da capacidade de seus povos de construir unidade, resistir à pressão externa e avançar em direção a um projeto socialista que garanta emancipação, desenvolvimento e dignidade.