VELHACARIAS

por Edilson Martins ------------- Por associação, resgatei, com atraso, a data da morte de Che - 9/10/1967. Logo após a Revolução cubana, 1959, na qual teve papel decisivo, vai para o Congo, na África central, sonhando o sonho da revolução mundial permanente. Perdeu. Sua presença, por injunção da União Soviética, ficara insustentável em Cuba. O mundo assistia ao desmoronamento da máquina de guerra dos EUA, no Vietnam, de onde, em 1975, sairiam correndo, derrotados pelas sandálias de pneus - dos aviões derrubados - dos vietcongs. O mundo dos que lutavam por liberdade, Brasil incluso, se chorou a morte de Che, sete anos depois - 1975 - celebra a saída patética, aos berros, das máquinas de matar, os soldados americanos fugindo de Saigon. Essa postura, essa paulada, se repetiria, recentemente, 2021, no Afeganistão. Seus generais pediram tempo ao Comandante das tropas vitoriosas vietnamitas - general Giap. Pediram tempo para poder fugir, com suas tropas, mesmo dependurados nas asas dos aviões americanos. Che morreu antes, sem nada ter visto, para sua tristeza, em La Higuera, povoado pobre e maldito das montanhas bolivianos. Lá estive, pouco depois de seu assassinato. Foi eliminado, no dia seguinte à sua captura, depois de desfrutar uma refeição feita por uma professorinha do lugarejo. Confessou a ela - nunca, enquanto preso, certamente sob brutais torturas, dirigiu qualquer palavra aos seus algozes - que o prato estava excelente. Estava visivelmente raquítico, e perguntado por ela porque " fazia aquilo", foi taxativo; " por meus ideais". Imaginavam assim, sepultar o mito. Aí, quem perdeu, foram eles. Che, por uma dessas curiosas velhacarias da vida, eliminado, seu rosto pareceu ao de Cristo. Alguns sonhos naufragavam, outros renasciam a partir desse rosto. Rosto que derrotado, eliminado - um médico latino perseguindo a utopia - infernizou a vida de não não poucos governos autoritários durante décadas da 2ª metade do século passado. ------------ https://linktr.ee/edilsonmartins