"Bolsonaro pertence ao lixo da história - não à democracia. É caso de polícia - não política. Merece desprezo e ostracismo - nunca a ribalta"
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por Tiago Barbosa no Brasil 247 ------------------
A lei reprovou. A Justiça condenou. As urnas já repeliram. Democracia e humanidade enjeitam - por asco e sobrevivência. Do Brasil e do mundo.
Mas há um setor imune à urgência civilizatória de repugnar a vocação nefasta de Jair Bolsonaro e o balaio de ideologias putrefatas.
A mídia corporativa brasileira - ecossistema moldado para abastecer, normalizar, legitimar e amplificar a figura tóxica e a seita alienada.
Engrenagem incapaz - por cobiça financeira e viés de classe - de se opor ao extremismo mesmo sob ameaças explícitas à sociedade onde opera.
Nem golpe. Nem plano para matar autoridades. Nem carnificina na favela. Nem traição ao país. Nem tornozeleira eletrônica violada.
Nada abala a missão autoconferida pela mídia de propugnar o extremismo como legítimo e apto a disputar o poder e corroer o destino do Brasil.
A imprensa naturaliza o chorume do bolsonarismo e valida artificialmente expoentes para influir na política pelo ódio e pela degradação social.
É quem mantém viva uma pauta de racismos, moralismos, segregação, desigualdade, violência - atrasos camuflados de opções técnicas para subverter a ideia de nação.
É quem enxerga valor político em situações dignas de polícia para fabricar impedimento a projetos populares, inclusivos e coletivos.
É quem faz de uma ex-primeira-dama cercada de suspeitas, fundamentalista e boca suja alguém com cacife para atacar Lula - interlocutor das principais lideranças do mundo.
É quem transforma ameaças ao país sob conduta vira-lata em atos válidos com espaço cativo no noticiário rendido a declarações.
É quem trata como fontes reputadas um deputado traidor da pátria e seu espelho da linhagem de ditador ao reverberar ameaça como análise e bloquear a percepção real sobre crimes.
A mídia introjeta posições de cunho extremista para dar verniz tolerável a agressões políticas e policiais - a vitória do crime, nas ruas e no parlamento, é noticiada como derrota de Lula.
A adaptação é frequente na forma e no conteúdo para reciclar a ojeriza à esquerda e renovar o vínculo antigo com o agente dessa campanha pelo retrocesso - Bolsonaro.
A imprensa tolerou o tributo à tortura no voto do golpe em Dilma, equiparou a um professor na eleição, escalou apresentadores para enxergar virtudes na personificação do fascismo.
Inútil do exército ao congresso, sem projetos ou ações relevantes ao Brasil, entusiasta da tortura e da milícia Bolsonaro foi alçado pela mídia à condição de democrata e antissistema.
Cada recuo ínfimo na truculência no governo era abençoado com tentativas de humanizar as monstruosidades - "mudou o tom", celebrava o noticiário.
Bolsonaro gestava golpe - e a mídia propunha comoção sobre depressão pós-derrota.
Bolsonaro é julgado - e a mídia se condói com internamentos oportunistas.
Bolsonaro é condenado - e a mídia ataca o tribunal e o processo.
Bolsonaro está na iminência da pena - e a mídia amiga recomenda a regalia do lar.
A docilidade contínua difundiu como aceitáveis tanto a figura como o imaginário de Bolsonaro e ajudou a envenenar fração da opinião pública com princípios nefastos e incivilidades.
Bolsonaro pertence ao lixo da história - não à democracia. É caso de polícia - não política. Merece desprezo e ostracismo - nunca a ribalta.
A persistência do bolsonarismo entre parte dos brasileiros é sintoma de uma sociedade adoecida pela inconsistência de formação democrática - reflexo de um país calejado por desumanidades.
E a mídia excita essa relutância.
Se séria, humana e democrática, legaria Bolsonaro ao esquecimento para sanear a convivência por um Brasil menos injusto, mais pacífico e coletivo.
Condenaria família e séquito aferrado a ideais de violência embutidos em hipocrisia para prevenir ódios, privilégios e retrocessos.
Mas é hospedeira do vírus bolsonarista - mira, inocula e infecta a alma do país.

