por Adilson Seabra -------------
Jair Bolsonaro não foi preso hoje porque “o sistema tem medo dele”. Foi preso porque sentou na frente da Polícia Federal e ADMITIU que pegou um ferro de solda, esquentou o brinquedinho e tentou abrir a própria tornozeleira eletrônica. Ex-presidente da República, condenado por tentativa de golpe, improvisando oficina clandestina na canela. Se isso não é o retrato perfeito do bolsonarismo, eu não sei o que é.
O sujeito que passava a vida berrando “lei e ordem” resolveu, na prática, testar até onde conseguia ir na desordem e contra a lei. Convocou vigília na porta do condomínio, transformou a rua em escudo humano, e na madrugada meteu solda na tornozeleira achando que ninguém ia notar a genialidade. Notaram. O sistema de monitoramento acusou, a PF relatou, Moraes leu, a preventiva veio. Não é perseguição, é causa e efeito.
E aqui entra o detalhe que ninguém que vive de gritar “ditadura!” quer encarar: a prisão de hoje ainda é prisão cautelar, não é prisão-pena. Ele está preso porque representa risco real ao processo – risco de fuga, risco de sabotagem, risco de transformar medida judicial em piada de ferro quente. A pena mesmo, aquela da condenação por tentativa de golpe, ainda nem começou a ser executada. Hoje é o aperitivo jurídico.
Lula e Bolsonaro, cada um à sua maneira, conheceram a cadeia pelo mesmo tipo de porta: a porta da prisão cautelar. A diferença é que um virou símbolo de discussão sobre Justiça; o outro virou tutorial de como NÃO usar uma tornozeleira eletrônica. Um saiu por decisão judicial que reviu o processo; o outro caminha para entrar de novo, agora como condenado, em execução definitiva.
A prisão de hoje é só o trailer: o capítulo em que o réu confessa que tentou derreter o próprio monitoramento. O filme completo vem com o trânsito em julgado, quando não será mais questão de risco, mas de culpa consolidada. Aí não adianta ferro de solda, vigília na porta, live chorosa nem carreata de patriota arrependido.
Quem viveu de brincar com a lei está descobrindo, em tempo real, que a lei brinca muito melhor. E não precisa de solda.
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