A Polícia Federal entrou na Câmara. Não foi metáfora. Foi mandado.

por Julio Benchimol ---------- A chamada Operação Transparência cumpriu busca e apreensão em salas da Câmara dos Deputados e na casa de uma servidora estratégica: Mariângela Fialek, a “Tuca”, ex-assessora de Arthur Lira e operadora do coração das emendas parlamentares. Não estamos falando de figurante. Estamos falando de quem executava o chamado orçamento secreto. De quem despachava sobre emendas numa sala formalmente destinada à Presidência da Câmara. De quem organizava milhões longe do olhar público. A operação foi autorizada por Flávio Dino, no STF. E isso importa - porque busca em área sensível do Congresso não é rotina, é exceção constitucional. Os crimes investigados dizem tudo, sem adjetivo: peculato, falsidade ideológica, uso de documento falso, corrupção. Repare no detalhe que desmonta o discurso fácil: Arthur Lira não é alvo formal da operação. Mas ninguém sério acredita em emenda sem cadeia de comando. Emenda não cai do céu. Não se executa sozinha. Não vira milhões por osmose administrativa. O que está acontecendo hoje é simples e brutal: o pós-orçamento secreto começou a cobrar a conta. A planilha invisível ganhou luz. O bastidor virou objeto de perícia. E aqui vai a frase que incomoda: a democracia não é ameaçada quando a PF entra no Congresso. Ela é ameaçada quando o dinheiro público sai sem deixar rastro. Hoje, o rastro apareceu. E levou direto ao centro do poder. Sigamos atentos. Porque transparência, no Brasil, nunca foi concedida. Sempre foi arrancada.