CANDIDATURA MORO DESMORONA

por René Ruschel --------------- O biorritmo político do senador Sérgio Moro entrou definitivamente em fase lunar. Não bastasse o vídeo da “festa da cueca” encontrado na mesma 13ª Vara da Justiça Eleitoral de Curitiba onde reinou como figura quase monárquica, ele assiste à própria candidatura ao governo do Paraná escorrer pelos dedos. O senador Ciro Nogueira, presidente do Partido Progressista, anunciou nessa segunda-feira, 8, em Curitiba, que Moro não será candidato pela União Progressista, arranjo que reúne PP e União Brasil. Selou o encolhimento de um projeto que nasceu superdimensionado pela vaidade e pela crença de que poder se conquista no grito. A reunião de Ciro com a executiva estadual, comandada pelo deputado Ricardo Barros, PP, apenas consolidou o óbvio. Sem apoio interno, não há matemática nem engenharia partidária capaz de sustentar a aventura de Moro rumo ao Palácio Iguaçu. A justificativa é pragmática, quase burocrática. Sem respaldo regional, a federação não teria sequer condições de registrar uma chapa majoritária no TSE em 2026. Mas o pano de fundo é político e simbólico. O ex-juiz que se habituou a operar solitário, blindado por holofotes e por uma narrativa de cruzada moral, agora encontra o limite de um jogo em que acordos, pactos e base são mais relevantes que a própria biografia. A política, ao contrário da Lava Jato, não é terreno para o juiz que se confunde com o investigador, o promotor e o salvador. Moro colhe os frutos de suas próprias trapalhadas, da ganância por poder e da convicção de que poderia converter seu prestígio de toga em capital eleitoral infinito. É irônico e talvez pedagógico que o mesmo protagonista do lawfare, que se julgava impermeável à contestação, enfrente agora a resistência de aliados que antes orbitavam seu magnetismo midiático. O desgaste não veio apenas do vídeo caricato ou das investigações, veio de dentro, da percepção crescente de que Moro é um ativo mais tóxico que valioso. Vaidade, afinal, também oxida. A história política recente está cheia de personagens que confundiram notoriedade com força real. Nos Estados Unidos, figuras como Rudy Giuliani, outrora celebradas como símbolos anticorrupção, hoje sobrevivem entre fracassos eleitorais e processos. No Brasil, o meteoro moralizador de Fernando Collor também se dissipou quando perdeu o controle da própria narrativa. Quando a ambição suplanta a prudência, o voo tende a ser curto.
Moro, que já se imaginou acima da política e chegou a sonhar com a presidência da República parece agora atolado em um pântano de ambição, sem partido sólido, sem projeto estruturado e sem a aura que o sustentou. Seu derretimento no Paraná não é um acidente. É consequência. É retorno. É, sobretudo, o ponto em que a imagem do juiz onipotente se desfaz diante da realidade de um homem incapaz de costurar sequer a própria candidatura. O ex-herói da Lava Jato descobre, tardiamente, que a política pode até perdoar a inexperiência, mas nunca tolera a soberba. A fase astral é péssima. Mas, diferentemente das estrelas, o brilho que falta agora não volta mais. --------------------- #reneruschel