INFILTRAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO NA JUSTIÇA

Tem uma coisa acontecendo no STJ que faria até Kafka levantar da tumba, pedir um café forte e dizer: “pera lá, isso eu não escrevi”. O presidente do tribunal - Herman Benjamin, que não é exatamente um poeta do caos - soltou que o crime organizado tentou operar dentro da Corte. Não é rumor, não é fofoca, não é tweet ressentido: é o chefe do STJ dizendo que sentiram cheiro de pólvora nos corredores. E, veja só, o buraco não veio travestido de vilão de filme: veio em forma de “nomadismo”, esse eufemismo gracioso para descrever servidor que muda de gabinete com mais frequência que influencer muda de skincare. Era tudo muito natural, muito cordial, muito “recebi proposta melhor”. Até a PF bater à porta e alguém perceber que esse trânsito todo parecia estrada pavimentada demais para ser inocente. Aí Herman solta a frase que deveria estar estampada em outdoor, adesivo de geladeira e tatuagem na canela de quem jura que “o Judiciário é intocável”: “Pode ter relação com crime organizado.” Uma sutileza digna de bisturi suíço. Em linguagem técnica: - Tem rato no templo, e não é pequeno. E não, ninguém está dizendo que ministro vende voto. O problema é muito mais sofisticado - e, por isso mesmo, mais perigoso. Basta um servidor com acesso, um intermediário esperto e um cliente disposto a pagar que, de repente, o Estado de Direito vira iFood de decisão judicial. O STJ, que sempre se viu como fortaleza, descobriu que também tem porta lateral, janela destravada e um tapete onde muita coisa foi sendo empurrada “porque nunca deu problema”. Pois é. Até dar. O recado é simples: quando o presidente do STJ precisa vir a público falar em crime organizado infiltrado, não é exagero; é alerta de incêndio. E quem ainda estiver fingindo que é brisa, não fumaça, está colaborando - por omissão - com a ruína. Que a limpeza venha. Sem dó, sem verniz e sem essa mania brasileira de chamar escândalo de “episódio”. ---------------------- por Julio Benchimol Pinto via Angel Roman