O Congresso, mais uma vez, reage como sindicato de réus potenciais.

por Luis Bechimol --------- O segundo ato do espetáculo veio rápido. Mal os celulares ainda esfriavam no gramado e o Congresso já entrou em cena, indignado não com a corrupção, não com o desvio de emendas, não com a tentativa patética de destruir provas, mas com a ousadia institucional de investigar um dos seus. A reação foi imediata, coordenada e previsível: pressão sobre o STF, pressão sobre a Polícia Federal, discursos inflamados sobre “abuso”, “excesso”, “perseguição”. A velha ladainha corporativa. Quando a PF sobe a rampa, o Parlamento desce o nível. De repente, jogar celulares pela janela virou detalhe irrelevante. Dinheiro em espécie no apartamento funcional virou “questão lateral”. Grave mesmo, segundo os indignados de ocasião, é o Estado cumprir mandados judiciais. O escândalo, para eles, não é o crime. É a investigação. O Congresso, mais uma vez, reage como sindicato de réus potenciais. Fecha fileiras não em defesa da Constituição, mas da autoproteção. Quando a lei encosta no mandato, o discurso muda: o problema passa a ser o STF “ativista”, a PF “ousada demais”, o Judiciário “fora de controle”. Nunca o investigado. É curioso como a independência entre os Poderes só incomoda quando funciona. Quando o STF carimba interesses, é equilíbrio. Quando a PF investiga emendas, é ameaça à democracia. Democracia, aliás, sempre invocada como escudo retórico de quem a saqueia por dentro. O recado subliminar é claro: parlamentar pode tudo; investigador, cuidado. A lógica é simples e brutal: mandato não pode ser revistado, telefone não pode ser periciado, dinheiro não pode ser contado. E, se insistirem, o Congresso rosna. Mas há um detalhe inconveniente: pressão política não apaga prova, não desfaz flagrante e não reescreve vídeo. Celular jogado pela janela não vira flor no gramado por decreto legislativo. Nem por nota oficial. O Brasil assiste, mais uma vez, ao teatro dos poderosos ofendidos porque alguém ousou aplicar a lei. Spoiler do terceiro ato: quando a investigação avança, o discurso muda de novo. A indignação vira silêncio. E o silêncio, tentativa de esquecimento. Só que agora tem vídeo. E a memória institucional anda menos amnésica do que eles gostariam.